O Cineluta revive um clássico da filmografia brasileira baseado na premiada peça teatral do diretor italiano Gianfrancesco Guarnieri. Eles não usam black-tie, de 1981, marcou a produção cinematográfica nacional ao retratar a mobilização dos trabalhadores por direitos através das greves, enfatizando a luta de classes, a exploração da força de trabalho, sem negligenciar os conflitos individuais e as contradições morais do movimento paredista. A produção foi premiada em diversos festivais internacionais e recebeu o Grande Prêmio do Júri no Festival de Veneza.
Em linhas gerais, Eles não usam black-tie se passa numa comunidade operária. O filme conta a história de uma família de trabalhadores de uma fábrica que enfrenta a desvalorização dos salários, a precarização da mão de obra e a ameaça constante de demissão por parte dos patrões.
O enredo joga luz no conflito entre o respeitado pai sindicalista, Otávio, e o filho recém contratado, Tião, cuja namorada, Maria, que também trabalha na indústria, está grávida. Diante da piora das condições do trabalho e do rebaixamento salarial da categoria, Otávio retorna às mobilizações sindicais, planejando com seus companheiros uma nova paralisação para forçar a negociação com os patrões. Do outro lado, o filho, que deseja se casar com Maria. Desacreditado do movimento grevista e com receio de perder o emprego, Tião resiste à convocação sindical e questiona o pensamento político do pai.
Eles não usam black-tie utiliza desse conflito moral familiar como pano de fundo para debater questões sociais complexas lidas na face cruel da desigualdade brasileira, na luta por sobrevivência de um povo sem direitos, nas dificuldades e nos antagonismos de uma greve e no papel da polícia frente ao choque de classes.
O tom dramático das cenas exalta a frágil condição humana, bastante explorada no filme por meio dos personagens que são confrontados por escolhas como a coragem ou a prudência; o desemprego ou a exploração; a utopia ou o consentimento; a rebelião ou a disciplina; o sensível ou o cru; a coletividade ou a individualidade. A genialidade da narrativa pode ser lida nos elementos fílmicos usados pelo diretor, Leon Hirszman, para representar o proletariado e sua angústia, como os movimentos de câmera, efeitos de iluminação, figurino uniforme e a paleta de cor voltada para a tonalidade sépia e monocromática, conversando com os elementos pertencentes a uma fábrica.
Sem dúvida, Eles não usam black-tie é um filme atemporal e, portanto, um clássico. Isto é, uma produção audiovisual que mesmo após 39 anos do seu lançamento, se mantém atual ao problematizar dilemas inerentes ao ser humano, à subjetividade e às relações sociais, sem ignorar o contexto histórico sobre o qual a trama se desenvolve. Assista ao filme abaixo.
Ficha técnica