A diretora do ASSUFOP, SIlvia Nahas RIbeiro, participou da “Roda de conversa conjunta sobre: A greve da educação e o cenário após um mês do retorno às atividade – a atuação das mulheres na greve e os desafios na UFOP e no IFMG.” O evento, organizado pelo Projeto Flor de Anahí: Mulheres Lutadoras Sociais – A universidade popular como horizonte, aconteceu na última sexta-feira (09/08) no Instituto de Ciências Sociais Aplicadas.
Além da diretora da ASSUFOP, também participaram da conversa Joana Ferreira do Amaral do ADUFOP, Ricardo Eugênio Ferreira do SINASEFE IFMG, Letícia Bargas do DCE UFOP e Débora da Costa Queiroz da APG UFOP.
Silvia argumentou sobre a baixa participação das mulheres na luta sindical que se dá, segundo ela, por três motivos. O primeiro deles seria a histórica tentativa das esferas do mundo político de silenciar mulheres e excluí-las de debates e de cargos de poder. Além dessa exclusão, Silvia coloca como segundo ponto a dupla jornada que a maioria vive. Além de ter que enfrentar o mercado de trabalho para poderem se sustentar, a maioria também precisa trabalhar em casa fazendo tarefas domésticas e cuidando dos filhos, dificultando ainda mais a participação delas na luta sindical. Por fim ela fala sobre o machismo estrutural, que em sua próprias palavras“Não é só um privilégio dos movimentos de direita”. E ainda salienta como ela mesma, dentro de movimentos progressistas já se sentiu silenciada e preterida por ser mulher
“Em vários momentos na greve eu fui interrompida. Quando assumia posições de destaque, era silenciada ou descredibilizada. São fenômenos do machismo estrutural que está muito presente na nossa sociedade, e ainda mais em espaços predominantemente masculino, como o meio sindical (…). Eu fui mãe solo durante a graduação, fui mãe que amamentava no corredor, que enfrentava olhares tortos. Eu quero dizer que, apesar de toda dificuldade, a gente consegue. É preciso insistir. Não desistir. E ainda foi mais fácil para mim, mulher branca. Para uma mulher negra, a situação seria ainda pior”
Silvia Nahas RIbeiro
Silvia, também falou sobre o gaslighting, uma forma de abuso psicológico que muitas mulheres sofrem onde um abusador distorce informações e acontecimentos com o intuito de descredibilizar ou fazer a vítima duvidar de si mesma. E do Mansplaining, que ocorre quando um homem, menosprezando a inteligência de uma mulher, explica para ela sobre algo que ela sabe tão bem quanto ou ainda mais do que ele próprio. E salientou que esse fenômenos ocorrem em abundância no meio político e acadêmico.
Joana Ferreira do Amaral, da ADUFOP, também falou sobre como a dupla jornada que muitas mulheres enfrentam impacta diretamente a atuação delas tanto nas greves quanto dentro da universidade e fez um apelo para que exista mais cuidado na hora de fazer o próximo calendário acadêmico, pois devido a greve ele não vai ser mais regular, e o fato de as férias e recessos na UFOP não baterem com as férias escolares dos filhos de funcionários das universidades dificulta muito a vida das mães que trabalham na universidade. Mas ela adiciona que, mesmo com todas as dificuldades enfrentadas pelas mulheres nos últimos tempos, a última greve foi marcante por ter mais mulheres nos comandos de greve do que homens.
Debora da Costa Queiroz, da APG UFOP, falou sobre como ainda é muito difícil ver mulheres em cargos de poder nos meios políticos, sindicais e acadêmicos e que, mesmo que a UFOP tenha uma reitora mulher, ainda temos que lutar muito para colocarmos mais mulheres em cargos de liderança. Além disso, ela salientou que é dever do estado, através de políticas públicas, contribuir para que mulheres cheguem a essas posições, combatendo o machismo estrutural e outras formas de opressão sofridas por elas.
Leticia Bargas, do DCE, falou sobre a importância de políticas das universidades para amparar alunas que trabalham e são mães, já que para elas a rotina acadêmica, difícil por si só, fica ainda mais complexa com a necessidade de conciliação com a vida pessoal. E ainda contou um pouco sobre sua trajetória como militante e destacou a importância da conscientização política.
Por fim, Ricardo Eugenio salientou como a última greve foi uma das mais fortes e importantes para os servidores das Universidade e realçou o fato de ela ter sido uma das greves com maior número de mulheres no comando. Além disso, chamou atenção para possíveis cortes no orçamento para educação e falou da importância de desmantelar o mito da dívida pública e do porquê de ela não ser uma desculpa para o contingenciamento de gastos na educação.