Ontem (03/02) começou a XXII Semana de Estudos da Escola de Minas, cujo tema é “Construindo Pontes para a Inclusão, Diversidade e Desenvolvimento Sustentável.” No entanto, antes mesmo de começar, o evento gerou revolta e indignação devido a uma orientação passada aos participantes da 3ª Mesa-Redonda, “Diversidade, Inclusão e Dignidade Humana: Avanços e Desafios para a Igualdade.” Nas diretrizes, havia um parágrafo solicitando que os participantes evitassem “trazer e comentar assuntos pertinentes aos acidentes dos rompimentos das barragens de mineradoras, questões judiciais, aspectos sociais, impactos sobre as vítimas, questões ambientais e demais temas relacionados.”.
A organização do evento publicou uma nota alegando que a intenção não era impedir ou restringir a discussão do assunto, segundo eles a orientação foi colocada lá para “manter o foco no tema previamente acordado entre os envolvidos na mesa-redonda” e ainda salientaram que foi “a forma como a informação foi redigida” que causou uma interpretação equivocada. Leia a nota completa clicando aqui.
A Reitoria da UFOP publicou uma nota afirmando que as orientações para os participantes da mesa foram retificadas, removendo o pedido de omissão sobre os crimes dos rompimentos de barragens. A nota ainda ressalta: “…vemos nisso uma oportunidade de aprendizado. Acreditamos que temas complexos, como os impactos socioambientais decorrentes de rompimentos de barragens, caso venham a surgir nas discussões, não só enriquecem o debate, mas também nos ajudam a encontrar caminhos mais inclusivos e sustentáveis para o futuro.”
Várias entidades como a CPT e a FLAMA, publicaram notas de repudio, sobre como o pedido viola a liberdade de expressão da universidade e simplifica o próprio debate proposto pela Mesa Redonda.
Opinião do Sindicato ASSUFOP
O Sindicato ASSUFOP manifesta seu total repúdio a esta clara tentativa de censura e de restrição da autonomia universitária.
A UFOP, enquanto instituição pública, tem o dever de promover o debate livre e plural, especialmente sobre temas de interesse da comunidade, como os impactos socioambientais dos crimes das mineradoras. Qualquer tentativa de silenciamento configura uma atitude autoritária e inaceitável, incompatível com os valores democráticos e com a missão do ensino superior.
Proibir a abordagem dos crimes do rompimento da barragem em uma mesa-redonda sobre Diversidade, Inclusão e Dignidade Humana, restringe a amplitude do debate e enfraquece a compreensão dos desafios sociais e ambientais que afetam diretamente diversas comunidades. O crime das mineradoras impactou populações vulneráveis, incluindo trabalhadores, povos tradicionais e moradores de áreas historicamente negligenciadas. Silenciar essa discussão é negar a essas pessoas o direito à memória, à justiça e à reparação, comprometendo a própria essência da inclusão e da dignidade humana que o evento deveria promover. Para uma universidade, aceitar qualquer forma de silenciamento é trair seu papel social e enfraquecer a luta por direitos e dignidade humana.
Como forma de reparação pela tentativa de censura, a UFOP deveria garantir que os atingidos pelo rompimento da barragem e/ou seus representantes tivessem espaço de fala na mesa-redonda ou em outro momento do evento. O silenciamento inicial reforçou a exclusão dessas vozes, que são fundamentais para qualquer debate sobre diversidade, inclusão e dignidade humana. Permitir que compartilhem suas experiências e demandas seria o minimo para corrigir o erro e também enriqueceria o evento com perspectivas reais sobre o tema Diversidade, Inclusão e Dignidade Humana.
O ASSUFOP se compromete em seguir firme na defesa de um ambiente universitário crítico, transparente e comprometido com a verdade, sem abrir espaço para qualquer forma de censura ou intimidação.