Insurreição chilena é reação popular contra política neoliberal

Brasil segue os fracassados passos do governo Chileno em direção ao abismo social

Manifestantes detidos pelo exército em Santiago, em novo dia de repressão a protestos contra políticas neoliberais que encarecem custo de vida no Chile (FOTO: EJERCITO_CHILE/FOTOS PÚBLICAS)

Faz cinco dias que o povo chileno se ergueu contra as medidas impopulares e entreguistas que atuam no país após reformas neoliberais impostas pela ditadura de Pinochet (1973-90). Enquanto o país era visto de cima pela imprensa corporativista burguesa como o paraíso da estabilidade econômica, o povo chileno acumulava ao longo de décadas perda de direitos, empobrecimento exponencial, privatização de bens fundamentais e sucateamento dos setores públicos – saúde, educação, segurança, previdência, assistência social entre outros.

O aumento da tarifa do metrô no país foi o estopim para o começo das manifestações, as mais violentas desde o retorno da democracia após o fim da ditadura militar. Após o presidente Sebastián Piñera ter declarado, no sábado anterior, que havia revogado o aumento do preço das passagens do metrô de Santiago, a insurreição popular cresceu e aumentou também a repressão bárbara das forças militares. Até esta terça-feira (22), 15 manifestantes foram mortos.

Diante dessa repressão bárbara, o povo chileno se viu ainda mais convicto de que este modo de governo submetido ao poder econômico, ao capital financeiro e aos bancos está avançando para o Estado policial de gestão ofensiva.

Cresce a insatisfação ao modelo econômico que endividou o povo chileno com a privatização do acesso à saúde e à educação. Vale considerar a elevada desigualdade social, a precarização absoluta das aposentadorias que distribui indignidade aos ex-trabalhadores.

O Chile foi o primeiro país a privatizar sua aposentadoria. Resultado disso: 90,9  dos aposentados recebem menos de 149.435 pesos, cerca de R$ 694,08. O salário mínimo do Chile é de 264 mil pesos (cerca de R$ 1,226.20). São dados divulgados em 2015 pela Fundação Sol, organização independente chilena que analisa economia e trabalho. Uma catástrofe social anunciada.

Brasil segue em ritmo máximo para devastação

FOTO: Marcelo Casal/Agência Brasil

As políticas econômicas tomadas por Temer e aprofundadas por Bolsonaro em nada se diferem das medidas impostas no Chile, Equador e Argentina. Diferentemente destas, somam-se no Brasil as questões ambientais, minerais e hídricas vistas com olhos famintos pelo capital estrangeiro. A reforma trabalhista, a PEC 55 (cujo teor proíbe o país de crescer por 20 anos) e a reforma da previdência que avança no Senado Federal não são capazes de mostrarem soluções para a vida do povo brasileiro que sofre com o número recorde de desemprego (conforme o IBGE, 12,8 milhões de desempregados), recorde de trabalhadores informais (12,8 milhões), recorde famílias endividadas e envergonhadas no país (63,4% das famílias).

Na mira desta política entreguista, estão as universidades e institutos federais e o sistema único de saúde, a Petrobrás e demais empresas públicas que resistem ao atropelamento privatista do governo Bolsonaro. A cartilha do FMI e do Banco Mundial chantageiam o país dizendo que as reformas acima citadas não são suficientes para “atrair” a confiança do capital internacional. E que, portanto, é preciso que haja mais cortes, mais precarização, mais privatização.

Concomitantemente, os bancos nunca ganharam tanto dinheiro no Brasil enquanto o povo enfrenta sua maior crise econômica. Apenas cinco bancos concentram cerca de 85% das operações financeiras no país, fato que os permite combinar as taxas de juros mais altas do mundo, tudo isso nas barbas do Banco Central (juros do cheque especial chegou aos incríveis 322,2% ao ano).

Este modelo está acelerando ainda mais a concentração vulgar de renda e riqueza na mão de poucos brasileiros. Conforme pesquisa recente divulgada pelo IBGE, metade dos brasileiros vive com apenas R$ 413 por mês.  O rendimento médio mensal do 1% mais rico da população brasileira foi 40 vezes maior do que o dos 50% mais pobres, em 2018, ano em que a desigualdade de renda no Brasil bateu recorde da série histórica da Pnad Contínua, iniciada em 2012.

O levante antineoliberal que se espalha pela argentina, pelo equador e Bolívia deve muito em breve chegar no Brasil, à sua maneira, evidentemente. Muito embora o país viva num cenário bastante diferente 2013, onde o governo Dilma não era suficientemente de esquerda para a ala esquerdista, nem suficientemente de direita para a ala direitista. O que se pode prever é o crescimento da insatisfação do povo brasileiro que está empobrecendo e perdendo assistência do Estado. Portanto, sob a luz da insurreição chilena, já passou a fase da resistência no Brasil. Agora é momento de contra-atacar.

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